23 de abr. de 2010
Review de God of War III para PS3 de GameTV
A glória – e até um lugar, digno, ao lado dos deuses. Mas, para a maioria desses personagens, a única coisa que os esperava ao fim de suas jornadas era a tragédia. Como comprova God of War III.
O encerramento da trilogia criada em 2005 por David Jaffe tem todas as qualidades de uma legítima história da antiguidade, daquelas escritas por Homero e Sófocles. Ele envolve deuses e humanos, confrontos entre pais e filhos, batalhas épicas, e traição – e faz viajar na imaginação tanto quanto os textos épicos. A única grande diferença está no fim: enquanto normalmente os textos clássicos traziam lições de moral, isso não existe aqui. O que resta, como bem relembra Kratos, é o caos.
”Seu filho voltou”
A nova saga do mortal transformado em deus começa exatamente onde sua aventura anterior terminou: nos ombros de Gaia, escalando o Olimpo, e pronto para assassinar o senhor dos trovões. E dessa vez é a própria montanha dos deuses que serve de cenário para a vingança do espartano. Isso, claro, além de uma nova visita ao Hades, à forja de Hefesto, aos jardins de Hera, ao quarto de Afrodite, e encontros com outras figuras ilustres da mitologia. Se alguém não apareceu antes, está aparecendo agora – e ninguém está de muito bom humor.
Esse simples passeio por céus, terras e mares helênicos já é o suficiente para elevar God of War a outro panteão. Os jogos anteriores já impressionavam pela escala dos cenários e dos inimigos – mas o terceiro episódio aumenta ainda mais o que já existia e acrescenta detalhes, luzes, efeitos... o que faltava para fazer tudo parecer de verdade. Desde o mais gigantesco dos Titãs até o brilho das espadas de Kratos no escuro, tudo enche os olhos. Com exceção de algumas quedas na taxa de quadros de animação quando a tela enche, esse é um jogo visualmente impecável.
É uma pena, aliás, que sejam tão poucas as partes em que o herói caminha por cima dos seus aliados, os gigantes que precederam os deuses. Os corpos de Gaia e Cronos, por exemplo, funcionam como grandes fases ambulantes. E enquanto a luta contra pequenos soldados acontece na pele desses seres, a guerra continua acontecendo em outros lugares. É fácil se sentir realmente fazendo parte de um confronto épico.
Fora essas curtas ocasiões, o design das fases é bem direto, como nos dois episódios anteriores. Sem caminhos alternativos, mas com vários quebra-cabeças e tesouros escondidos para recompensar os mais curiosos.
Mas a verdadeira beleza da série está na violência, e isso o fim da saga tem aos litros. De sangue.
O básico da escola espartana de combate não mudou. A arma básica do semideus é o seu par de Lâminas do Exílio (o novo nome das Lâminas de Atena), com estocadas rápidas, batidas poderosas, giros, pulos e tudo o que ele aprendeu em suas batalhas anteriores. Pulos e esquivas, também essenciais a qualquer guerreiro grego, também estão de volta. Além da simplicidade de antes, todo o combate parece estar mais rápido, mais fluido, e quase não há momentos de paz nas quase doze horas de jogo. O que é ótimo.
A preparação bélica, porém, não pára por aí – como é de se esperar de alguém que matou hidras, minotauros e um punhado de heróis. A fórmula de armas e magias separadas dos capítulos anteriores foi deixada de lado para dar lugar a um sistema mais interessante: cada instrumento de batalha agora tem seu próprio feitiço. As Lâminas, por exemplo, chamam o Exército de Esparta – uma barreira de escudos, lanças e arcos que limpa toda a tela. Já os Ganchos de Hades invocam diferentes criaturas do mundo inferior, que atacam ao seu comando. Isso torna os equipamentos mais únicos e interessantes de usar, ao contrário das lanças e espadas dispensáveis de antes.
Além disso, há também itens especiais – “presentes” dos deuses – que ajudam Kratos em sua jornada, como o Arco de Apolo e as Botas de Hermes, por exemplo. O uso combinado desses artefatos com as diferentes armas amplia os horizontes da chacina e faz com que o jogo seja, provavelmente, o mais divertido da trilogia.
God of War III pode não ter as mecânicas complexas de um Devil May Cry ou os combos eternos dos Ninja Gaiden. Ele é, inclusive, mais fácil e “bonzinho” que os dois primeiros games. Mas nenhum desses jogos faz com que você se sinta tão bem por estar destruindo o mundo. Ou enfiando os dedões nas órbitas de alguma divindade.
”Tenha certeza disso: Zeus vai morrer”
A riqueza visual impressiona de dois jeitos: criando lágrimas, porque toda a destruição é linda, e causando desconforto, porque arrancar tripas do bucho de um centauro é o que você vai fazer de mais leve. Não tenha os games anteriores como referência: o novo God of War traz os fins mais horríveis para os inimigos do guerreiro espartano.
Isso vai de pendurar o infeliz de ponta cabeça e cortar uma perna por vez (com direito a ossos aparecendo) a esmurrar alguém com uma manopla de metal até que o seu rosto vire uma massa disforme de sangue, carne e qualquer outra coisa. São comuns os momentos em que você até se sente meio mal (em ambos os sentidos) por estar sendo tão cruel com os moradores do Olimpo. Ainda mais quando você vê que, a cada um que abate, faz o mundo “acabar” de alguma forma. Enchentes, pragas, escuridão e morte para toda a humanidade são o preço da vingança de Kratos.
Esse Apocalipse (aparentemente) desnecessário tem um efeito interessante em como a história se desenrola – ele afeta o jogador e também o ex-deus. No primeiro episódio, antes de matar Ares, ainda era possível ver traços de humanidade no espartano raivoso. Ele ainda se lamentava pelo passado e, justamente, livrar-se desse peso era o seu grande objetivo. Depois de ascender ao Olimpo, sua frustração por não conseguir se libertar se transformou em raiva cega. Agora esse fogo começa a abaixar.
Sem contar detalhes sobre a história, é interessante ver a trajetória do personagem até os últimos momentos do game – com direito a alguns recursos de narrativa mais trabalhados e inesperados. Ele ainda não se iguala aos jogos focados puramente em história, mas ainda assim traz um fim digno a esse épico de vingança. E faz jus às suas origens clássicas.
Emocionante, mágico e trágico – como as histórias da antiguidade. O tão esperado episódio derradeiro da série traz um fim digno de toda a grandiosidade que veio antes. Os defeitos existem e a mitologia pode até ter sido distorcida. Mas não adianta: até que se levante um guerreiro do mesmo calibre, God of War III é o deus dos jogos de ação.
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